Os prémios primeiro e o reconhecimento depois
Nos seis anos que demorou a realizar a sua longa-metragem, Catarina foi encontrando diversas dificuldades. E como não poderia deixar de ser, o financiamento foi uma delas. Embora se sinta “afortunada por ter recebido a aprovação do Instituto do Cinema e do Audiovisual”, a cineasta não poupa nas críticas a essa instituição. Há diversos realizadores “bastante talentosos que não conseguem fazer cinema em Portugal. Tudo isso, porque lhes falta financiamento”. Com a nova lei do cinema, tudo veio piorar. “O cinema português está à beira de uma morte anunciada”, afirma.

Neste projeto-lei, as plataformas de streaming como a Netflix ou a DisneyPlus estão isentas da taxa de subscrição se investirem na produção de obras europeias e lusófonas. Porém, a selecção dos projectos e os montantes investidos são da sua total escolha. O cinema português ficaria assim submetido a uma lógica de mercado, prejudicando os cineastas menos conhecidos. Catarina já vê como “um milagre” o facto de “tantos cineastas farem tantos filmes com tão pouco dinheiro”. Se este projeto-lei passar, o trabalho destes realizadores será impossível.
O próprio reconhecimento também é escasso. Muitos filmes só chegam até ao espectador português “depois de serem reconhecidos lá fora”. Para Catarina, essa atenção deveria vir “antes dos prémios internacionais”. Contudo, todos fazemos o exato oposto. A cineasta teme o pior. Nas suas palavras, “se isto não mudar rapidamente, é possível que não voltemos a ter entrevistas destas tão cedo”.
Originalmente publicado na Revista Bica a 23 de Outubro de 2020