A pandemia do Covid-19 fez uma vítima no sector cultural francês: a cineasta Sarah Maldoror faleceu na tarde da passada Segunda-feira. Com 90 anos de idade, a realizadora encontrava-se internada no Hospital de Saint-Denis, nos arredores de Paris.
Baptizada com o nome “Sarah Durados”, a cineasta nasceu a 19 de Julho de 1929 na cidade ocitana de Condom. A cineasta viria a adoptar o sobrenome “Maldoror” a partir da obra poética “Les Chants de Maldoror” do Conde de Lautréamont. Oriunda de uma família mestiça, cujo pai negro vinha de Guadeloupe, nas Antilhas, Sarah Maldoror usou o continente africano e a realidade da população negra como um pano de fundo para as suas obras.
Considerada uma pioneira nos cinemas africano e antilhano, Sarah Maldoror começou a sua carreira em 1966, como assiste do realizador Gillo Pontecorvo em “A Batalha de Argel”. Um ano após concluir a sua formação em cinema no Studio Gorki, em Moscovo, lançou a sua primeira curta metragem, “Monangambee”, em 1969. Adaptado de uma história do escritor angolano Luandino Vieira, o guião contou com a colaboração do activista do MPLA Mário Pinto de Andrade, marido da cineasta.
A sua obra mais conhecida viria em 1972: “Sambizanga”, baseada na novela “A vida verdadeira de Domingos Xavier”, também de Luandino Vieira. Rodado em Brazzaville, no Congo, “Sambizanga” narra a história do revolucionário angolano Domingos Xavier. Levado para prisão de Sambizanga, nos arredores de Luanda, Domingos é ameaçado de tortura pelas forças portuguesas se não denunciar os seus companheiros de guerrilha. Ao mesmo tempo, a sua esposa, Maria, procura-o em todas as prisões, para saber o que aconteceu ao seu marido.
A maioria do elenco era composto por amadores, sobretudo colaboradores dos movimentos de libertação.
Originalmente publicado a 14 de Abril de 2020 na RV Magazine para a Unidade Curricular de Jornalismo Multimédia