Um dia na vida dos novos mouros

Todos os castelos têm uma saída. A porta leste do CMM aponta para a Rua do Capelão. Do teor religioso já só lhe resta o nome, mas tal como a Rua do Benformoso, este caminho escuro leva à luz, ao Largo Severa. A tarde começa a chegar e o período pós-almoço pede algo mais. O cabeleireiro do jovem Nicki surge pela frente. Contudo, quem vem do Martim Moniz não anseia por um corte, mesmo quando é um jovem indiano quem o faz. A fragância a ginja e a imperiais torna-se impossível de resistir e magnetiza os transeuntes para a porta à esquerda, onde o António da Severa os recebe sem hesitações. Neste local de passagem todos são bem-vindos, mesmo os novos moradores da Mouraria. Embora a fé de muitos deles lhes proíba o consumo de álcool, o sentimento de vizinhança alastra-se a eles e impele-os a saudar quem se encontra à porta da tasca. Por entre aqueles que se atrevem a entrar nos Amigos da Severa surge Nuno Franco, colaborador da Associação Renovar a Mouraria (ARM). A sua família vive há três gerações no bairro. Conhece-o como ninguém. Entre saudações aos velhos e novos mouros, continua a ser notório o olhar desconfiado sobre os imigrantes por parte das gerações mais velhas. Estes mouros mais recentes trouxeram uma nova identidade ao bairro, mas o colaborador da ARM relembra que “muita gente não entende isso”.

@ Acontece em Lisboa

As horas passam por entre os copos de ginja. O final da tarde começa a aproximar-se e a caminhada até ao Largo Severa acaba por ser interrompida. No regresso ao Martim Moniz o movimento da Praça parece ter aumentado. É a hora de pausa para muitos dos trabalhadores do CCM. Sejam colegas ou apenas vizinhos de loja, estes vão-se reunindo e convivendo no exterior. Uma roda composta por algumas pessoas destaca-se entre os restantes. Embora todos tenham tenham a mesma aparência, a indumentária assinala as suas diferenças. Uns usam o dastar, o turbante imposto pela sua religião sikh. Hindus envergam o tradicional panjabi enquanto os crentes na fé de Maomé usam o jubbah, a túnica islâmica. A acreditar na imprensa internacional, estas três comunidades estariam em conflito constante no Subcontinente Indiano de onde vieram. Os sorrisos e os gestos de brincadeira que expõem nesta praça lisboeta mostra algo diferente.

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