“Os meus sonhos são muito banais”

Zimler não esconde o preconceito inicialmente sofrido por ser americano. “Chegamos a Portugal no final da Guerra Fria. Culpavam-me por a política do governo norte-americano. Diziam que não existia uma cultura americana.”, relembra o nova-iorquino. “Cheguei a ser insultado por um aluno da Escola Superior de Jornalismo num exame oral”, acrescenta.

Esse episódio representou uma exceção no seu curto período como docente na Escola Superior de Jornalismo do Porto, mais tarde integrada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Os estudantes de Teoria do Jornalismo e Teoria da Comunicação Social ficavam fascinados com este professor completamente diferente. “Ele falava um português muito enrolado, ainda com sotaque”, diz Vasco Ribeiro, atual docente na FLUP e aluno de Zimler de 1992 a 1994. “Muita da matéria ensinada por ele era desconhecida em Portugal. Isso inspirou-nos”, acrescenta.

Esta pequena carreira viria a acabar em 2006, quando a direção da FLUP se recusou a dar-lhe licença sem vencimento. Ruth, a sua mãe e a única pessoa da sua família com quem ainda tinha proximidade encontrava-se nos seus últimos meses de vida. Michael, o seu filho mais velho, o irmão “egoísta e azedo” que Richard prefere esquecer, tinha ignorado a família há vários anos. “Eu quis cuidar dela. Era a única pessoa capaz de o fazer. Acabei por me ver obrigado a deixar a universidade”. Quintanilha aponta a inveja dos colegas como um motivo para essa recusa. “Eles não gostavam de ver um professor com um mestrado em Stanford”.

Richard e a sua mãe, Ruth. @ D.R./

As tragédias também representam oportunidades. Richard aproveitou este momento para se dedicar à escrita. “Sempre gostei de escrever, daí ter sido jornalista durante oito anos. Aquele era o momento certo”. O início da sua carreira foi muito difícil. A escolha de Lisboa como cenário para a sua primeira criação levou a 24 rejeições no mercado editorial norte-americano. A luz surgiu da Quetzal pela mão de Maria da Piedade Ferreira, antiga editora de Zimler e “madrinha da sua carreira”, nas palavras do nova-iorquino. A relação profissional evoluiu para uma amizade entre os dois vizinhos. “Essa amizade dura até hoje”, confirma a editora.
Tal como as restantes indústrias criativas, o mundo editorial continua a seguir uma lógica muito comercial e desprovida de lealdade. Os dissabores quando a Quetzal foi absorvida pela Leya levaram o escritor a contactar Manuel Alberto Valente, editor da Porto Editora. Valente não esquece a sua surpresa com a facilidade de trato do seu novo cliente. “Os escritores costumam ter uma personalidade difícil, com um enorme ego. Já o Richard foge a essa regra. Sempre se mostrou disponível para colaborar connosco”, afirma.

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