
A censura ao cinema, nos anos 30 e 40 do século XX, não se cingia a ditaduras como a do regime franquista, revela um estudo da autoria da investigadora Fátima Gil Gascón, da Universidade de Burgos. A professora de ciências da comunicação lembra que “em democracias como os Estados Unidos da América (EUA) ou o Reino Unido, as obras cinematográficas também estavam sujeitas à censura”.
A propósito de uma aula sobre o “Cinema e a Censura na Espanha de Franco”, dada durante uma visita à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a professora espanhola apontou que tanto nos EUA coma na Espanha franquista a censura tinha “uma base eclesiástica”.
Este tipo de censura tinha um fundamento moral. No entanto o seu poder devia-se maioritariamente à capacidade de a Igreja influenciar o público. “Meter-se em questões religiosas era tão perigoso que mais valia não o fazer” acrescenta Fátima. Um dos exemplos apresentados foi o conhecido Código Hayes de 1929, proposto por instituições católicas e aceite pela indústria cinematográfica em 1930.
A docente da Universidade de Burgos aponta o carácter estatal da censura franquista como um elemento distintivo em relação à realidade norte-americana. A indústria cinematográfica dos EUA exercia “um autocontrolo sobre as suas películas”.
Fátima relembra que a ditadura franquista encarava o cinema como “um instrumento de propaganda”. O regime pretendia um cinema moralizante. O estado controlava todo o cinema no sentido de “ensinar o povo a comportar-se na nova sociedade espanhola”. Os filmes censurados incluíam também as tragédias e os dramas. O conteúdo considerado triste era indesejado por “não trazer esperança” para a população. Um dos exemplos apontados foi a obra “La Calle Sin Sol”, que apresentava um caso de pobreza no período pós-guerra civil. Um filme da época não podia apresentar “um quadro onde o governo de Franco não estivesse a fazer o seu papel”, o que levou o filme a sofrer cortes por parte dos censores.
A censura franquista não era infalível. Os cineastas espanhóis recorriam a dois métodos para lhe escapar. O mais recorrente era a comédia. A sua reduzida seriedade gerava uma capacidade de ser mais incisivo e de avançar mais do que nos dramas. Os cineastas conseguiam ter uma margem de manobra maior, “mesmo quando o aspecto moral não era o mais adequado”. Além disso, existia o recurso a elementos fortes, tanto nos títulos como nos cartazes. Os cineastas recorriam a cartazes com imagens chocantes ou títulos “passíveis de ser interpretados como eróticos”. Esta forma de desviar a atenção dos censores levava-os a “deixar passar elementos mais sensíveis no conteúdo dos filmes”.
Notícia redigida para a unidade curricular de Produção Noticiosa no ano lectivo de 2018/2019.